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Política

Coronel Sapucaia (MS), na fronteira com o Paraguai, repete contradições territoriais no 1º turno ao ter mesma votação para Lula e Bolsonaro

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Candidatos à Presidência receberam 4.295 votos cada um, com 96% do eleitorado polarizado entre PT e PL. Não é novidade políticos empatados no município: em 2016, vereadoras tiveram votação igual e a idade definiu quem foi eleita.

Coronel Sapucaia, no extremo sudoeste do Mato Grosso do Sul, é uma cidade polarizada. No 1º turno da eleição presidencial, o número de votos para Lula (PT) e Jair Bolsonaro (PL) foi o mesmo: cada um recebeu exatos 4.295 votos, o que dá 47,97% do eleitorado para cada um.

Ao considerar todo o país, Lula obteve 48,43% dos votos (57.259.504), contra 43,20% de Bolsonaro (51.072.345).

Coronel Sapucaia é uma das três cidades que registrou empate exato, nada técnico (quando candidatos possuem números próximos dentro de uma margem de erro de pesquisa eleitoral, por exemplo), entre o atual presidente e o ex-presidente (leia mais aqui).

O resultado na cidade comparado às outras duas é o mais apertado de todo o Brasil, com apenas 4,06% do eleitorado local depositando seu voto em outros candidatos à Presidência.

Dados do IBGE estimam cerca de 15.400 habitantes no município em 2021. Ao todo, são 9.702 eleitores, conforme o Tribunal Superior Eleitoral.

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Divergências, mas sem agressões

 

O racha entre Lula e Bolsonaro levou tensão para a convivência entre os moradores de Coronel Sapucaia. Principalmente no ambiente virtual. “Vejo muito bate-boca em redes sociais e muita gente perdendo a amizade. É o que pude perceber, tem muitos grupos de família com brigas e discussões”, diz a professora Rosângela Polatha.

Contudo, a convivência presencial não reflete casos de violência política, como ocorreu em partes do país com agressões físicas, ataques a tiros e até mortes.

“As pessoas estão bem divididas por conta da eleição, mas acredito que não tenha briga, não”, conta Rita Oliveira, vendedora em uma loja de roupas. “Convivência está mais ou menos, as pessoas têm se estranhado, mas não tem briga. Não tem tido brigas, não”, diz o gerente de vendas Antony Bordão.

Agora, nem todo mundo aceita dizer abertamente em quem vai votar no 2º turno. “Não votei Lula ou Bolsonaro no 1º turno e vou votar no 2º. Prefiro deixar [o voto] no particular”, responde Antony, quando questionado se será Lula ou Bolsonaro no dia 30 de outubro.

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Divisão é característica recorrente

 

A divisão vista nas urnas ocorre em outros aspectos no município, a começar pela questão territorial — por fazer fronteira seca com o Paraguai. Uma avenida, a Avenida Internacional, divide os territórios brasileiro e paraguaio — cidade de Capitán Bado.

Assim como a existência conjunta de duas pátrias, a região convive com a divisão de moedas (real, guarani e dólar), dialetos (português, espanhol, Guaraní e uma espécie de mistura a la portunhol) e as nacionalidades.

A maior parte de seus 1.029 km² é composta por área rural ou terras indígenas, enquanto a parte urbana se limita à extensão e o entorno da avenida principal.

Não é a primeira vez que políticos têm a mesma votação na cidade. Em 2016, duas candidatas ao cargo de vereadora receberam 245 votos: Maria Eloir Flores e Sebastiana Rodrigues, ambas do MDB.

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A solução veio da lei, com o desempate a favor da mais velha entre elas, no caso Mari Eloir.

Surpresa com votação exatamente igual

 

O empate voto a voto de Bolsonaro e Lula chamou a atenção dos próprios moradores. Pelas ruas, eles contam, quem se expressa politicamente indica mais apoio a Bolsonaro do que Lula.

Vejo mais gente [pró] Bolsonaro, foi surpresa os dois terem voto igual”, conta Antony Bordão, sobre os eleitores que se posicionam com camisetas ou bandeiras durante a campanha eleitoral.

A professora Rosângela Polatha afirma que pode não haver tanta campanha explícita nas ruas, que “não se manifestam diretamente. Quando conversa, elas dizem. Foi isso que fez diferença no final”, afirma.

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Para ela, os bolsonaristas e lulistas tiveram temas claros para definir o voto. “As pessoas estavam bem neutras, as pessoas de idade foram que mais votaram no candidato Lula. Por questões de preços, muita alta no preço das coisas, inflação, não conseguir comprar comida”, diz Rosângela.

“O presidente teve votos por conta do agronegócio, são mais esses setores que votam Bolsonaro. O pessoal cita porte de arma, coisas que são vantagem para eles. Melhorou para eles isso, muito”, cita.

Na aldeia Taquaperí, formada pelas etnias Guarani e Guarani Kaiowá, não houve divisão. É o que defende o professor Amaro de Souza Rocha, morador da região.

“Aqui na minha comunidade de Taquaperí, no município de Coronel Sapucaia, a gente sempre é unânime nesse quesito de política e nas ações sociais de governo que o Lula fez. A minha comunidade, minha família foi unânime na eleição, não tivemos divergências políticas”, diz.

Já no centro da cidade, a avaliação é mais pró-Bolsonaro. “Na verdade, aqui a grande maioria que a gente vê se expressar nas ruas é Bolsonaro. A grande maioria é de pessoas que estão mais em igreja, trabalham no centro, esses que apoiam mais Bolsonaro”, afirma a vendedora Rita Oliveira.

Para o comerciante Junior Machado, que atua como assessor político no município, as características locais de divisão pesaram para a igualdade Lula e Bolsonaro. “A mesma quantidade de votos de lulistas e bolsonaristas talvez seja o bom trabalho durante a campanha dos dois times. Depois do futebol, a política seja o nosso esporte favorito aqui”, diz.

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