Política
Bolsonaro baixa tom, responde Fachin e agora diz que ninguém quer atacar urnas
“Não existe interferência, ninguém quer impor nada, ninguém quer atacar as urnas, atacar a democracia, nada disso”, disse Bolsonaro após inúmeros ataques ao TSE
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O presidente Jair Bolsonaro (PL) disse nesta quinta-feira (12) que o presidente do TSE, ministro Edson Fachin, vê “fantasma” e que as Forças Armadas não interferem nas eleições.
“Eu não sei de onde ele está tirando esse fantasma que as Forças Armadas querem interferir na Justiça Eleitoral”, disse Bolsonaro em sua transmissão semanal em redes sociais.
“Não existe interferência, ninguém quer impor nada, ninguém quer atacar as urnas, atacar a democracia, nada disso. Ninguém está incorrendo em atos antidemocráticos. Pelo amor de Deus! A transparência das eleições, eleições limpas, transparente, é questão de segurança nacional”, continuou.
Após seguidas ameaças e insinuações golpistas, a declaração do chefe do Executivo reduziu o tom que ele adotou nas últimas semanas para se referir aos ministros do TSE e às eleições.
Em evento em Maringá (PR), na véspera, Bolsonaro havia voltado a colocar em dúvida o sistema eleitoral e disse que seu governo não aceitaria provocações.
Fachin disse, mais cedo, que quem trata das eleições são as “forças desarmadas”. A declaração foi feita após a ampliação de ataques às urnas por Bolsonaro e dias após o TSE negar sugestões das Forças Armadas ao processo eleitoral.
“A Justiça Eleitoral está aberta a ouvir, mas jamais está aberta a se dobrar a quem quer que seja [sic] tomar as rédeas do processo eleitoral”, disse ainda Fachin à imprensa durante evento no tribunal para testes do sistema eleitoral.
Bolsonaro chamou a declaração do ministro de “descortês”. No passado, o presidente já falou que Fachin tem “forte ligação com o PT”.
A participação das Forças Armadas a que ele se refere é na Comissão de Transparência Eleitoral (CTE), do TSE, criada pelo então presidente da corte, ministro Luís Roberto Barroso.
A iniciativa ocorreu no ano passado, em meio a ataques de Bolsonaro às urnas e questionamentos contra o sistema eleitoral brasileiro. Na época, a ideia era trazer militares para perto do processo e, assim, conseguir respaldo deles na defesa da votação, contra a ofensiva bolsonarista.
Militares fizeram quase uma centena de questionamentos e enviaram sugestões à corte eleitoral, que sinalizou acatar apenas parte delas e criticou algumas das questões das Forças Armadas. Bolsonaro, então, colocou sob suspeita o posicionamento do TSE.
Diante da retomada dos ataques do presidente aos ministros e ao sistema eleitoral, mesmo com a participação dos militares na CTE, integrantes de tribunais superiores, inclusive do STF (Supremo Tribunal Federal) e do próprio TSE, passaram a considerar um erro o convite para que as Forças Armadas participassem do colegiado.
“Ninguém quer ter dúvidas quando acaba eleição, se aquele candidato ganhou mesmo ou não, né? Ou se o que perdeu perdeu, ou não. As Forças Armadas vão continuar fazendo seu trabalho a não ser que o ministro revogue a portaria [que criou a CTE]”, disse Bolsonaro na quinta-feira.
“Sem ataques à democracia, as Forças Armadas estão cumprindo sua missão”, completou.
Em segundo lugar nas pesquisas de intenção de voto, atrás do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Bolsonaro falou durante a transmissão semanal, em mais de um momento, que Fachin poderia simplesmente revogar a portaria feita por Barroo.
A sugestão é, na verdade, uma provocação. Integrantes das Forças Armadas críticos ao envolvimento delas no processo eleitoral dizem ser isso que o presidente mais quer, que o presidente do TSE acabe com o colegiado ou “desconvide” as Forças Armadas de alguma forma.
O objetivo dele seria, segundo disseram, usar o fato para conseguir manter a narrativa de que os ministros do TSE não querem sugestões para “aprimorar” o sistema. Com isso, conseguiria colocar as eleições em dúvida de vez.
As Forças Armadas sempre auxiliaram o TSE na logística dos pleitos, mas pela primeira vez passaram a integrar oficialmente uma comissão dessa natureza.
Bolsonaro, que gosta de se dizer “chefe supremo das Forças Armadas”, cobrou do TSE que aceite as sugestões das forças para o processo eleitoral, “todas foram técnicas”. A declaração foi dada em evento no Palácio do Planalto, no final de abril.
Na ocasião, o deputado federal Daniel Silveira (PTB-RJ), agraciado com um indulto por Bolsonaro, estava sendo homenageado no Planalto. O presidente usou o evento para atacar o STF (Supremo Tribunal Federal) e chamou Barroso de “mentiroso”.
Além disso, o chefe do Executivo disse ainda, na ocasião, que uma das sugestões é para os militares acompanharem a apuração final dos votos.
“Quando encerra eleições e os dados chegam pela internet, tem um cabo que alimenta a ‘sala secreta do TSE’. Dá para acreditar nisso? Sala secreta, onde meia dúzia de técnicos diz ‘quem ganhou foi esse’. Uma sugestão é que neste mesmo duto seja feita uma ramificação, um pouco à direita, porque temos um computador também das Forças Armadas para contar os votos”, disse Bolsonaro.
Em julho de 2021, após ataque do presidente ao sistema eleitoral, o TSE disse não existir apuração em “sala secreta”. “Em verdade, a apuração dos resultados é feita automaticamente pela urna eletrônica logo após o encerramento da votação.”