Morre Mario Vargas Llosa, escritor e Nobel de Literatura, aos 89 anos

Mario Vargas também foi prestigiado com os prêmios Cervantes, Príncipe de Astúrias das Letras, Biblioteca Breve, o da Crítica Espanhola, o Prêmio Nacional de Novela do Peru e o Rómulo Gallegos.
Morreu neste domingo (13), aos 89 anos, o escritor peruano Mario Vargas Llosa, vencedor do Prêmio Nobel de Literatura em 2010. A informação foi anunciada pelas redes sociais por Álvaro Vargas Llosa, filho do autor de livros cultuados, como “Conversas no Catedral” (1969), “Pantaleão e as visitadoras” (1973), “Tia Júlia e o escrevinhador” (1977), “A guerra do fim do mundo” (1981) e “Travessuras da menina má” (2006), entre tantos outros romances (todos publicados no Brasil pela Alfaguara).
“É com profundo pesar que anunciamos que nosso pai, Mario Vargas Llosa, faleceu hoje em Lima, cercado pacificamente por sua família”, escreveu o filho do escritor por meio do X. “Sua partida entristece seus parentes, amigos e seus leitores ao redor do mundo, mas nos consola saber que ele teve uma vida longa, múltipla e frutífera, e deixa atrás de si uma obra que o sobreviverá”, acrescentou.
“Agradecemos de coração o carinho e o apoio recebidos e pedimos que sejam respeitadas nossas instruções. Não haverá nenhuma cerimônia pública. No momento da despedida final, nossos pensamentos estarão com todos que o leram e o admiraram. Após o adeus em família, seus restos, conforme sua vontade, serão cremados”, concluiu Álvaro, no texto publicado nas redes sociais.
Fama internacional
O peruano, que tinha cidadania espanhola desde 1993, venceu o Nobel de Literatura em 2010, reconhecimento pela a carreira que deslanchou em 1959. Vargas Llosa alcançou fama internacional com livros como “A cidade e os cachorros” (1963) e “A casa verde” (1966). Ele também assinou novelas, contos, memórias, ensaios, peças de teatro, poesias e contribuía periodicamente para o jornal espanhol “El País”.
Em novembro de 2024, chegou ao Brasil o último romance do escritor. Ao lançar “Dedico a você meu silêncio” na Espanha, em outubro passado, o Nobel de Literatura de 2010 deixou claro que seria sua despedida como escritor de ficções. Também registrou que se esperasse dele, a partir de então, apenas um ensaio sobre Jean-Paul Sartre, seu “mestre na juventude” — ensaio que até agora não foi publicado. Dois meses depois, despediu-se das colunas que assinava no jornal “El País” desde 1990.
No livro, ele parte da história do jovem violonista Lalo Molfino, um mestre das valsas peruanas, para dar sentido à vida do protagonista, o crítico musical Toño Aspicuelta. Profissional experiente, fica maravilhado quando vê Lalo tocar. Mas, ao tentar reencontrá-lo, meses depois, descobre que o artista morrera subitamente e fora enterrado como indigente. O músico era um sujeito genial, mas também genioso demais, achando-se superior à Humanidade, a quem decide dedicar apenas seu silêncio.
‘Boom latino-americano’
A partir da complexa realidade de seu país natal, o Peru, Vargas Llosa alcançou projeção mundial, tornando-se um dos grandes nomes do chamado “boom latino-americano”, movimento que reuniu também figuras como o colombiano Gabriel García Márquez, o argentino Julio Cortázar e os mexicanos Carlos Fuentes e Juan Rulfo.
Reconhecido por retratar com profundidade questões sociais em obras-primas como “A cidade e os cachorros” e “A festa do bode”, o escritor gerou controvérsia, nos últimos anos, devido aos seus posicionamentos políticos de viés liberal. A opiniões frequentemente causavam atritos num meio intelectual majoritariamente alinhado à esquerda.
“Somos nós, latino-americanos, sonhadores por essência e temos dificuldades para separar a realidade da ficção. Talvez por isso tenhamos artistas tão extraordinários — músicos, poetas, pintores e escritores — e, ao mesmo tempo, líderes tão ruins e medíocres”, afirmou pouco antes de ser agraciado com o Prêmio Nobel, em 2010.