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ChatGPT – Apertem os cintos, o piloto chegou!

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Deve ter sido muito difícil a descrição dos setedias da Criação do Mundo. Mesmo um pesquisador atento, lendo o livro do Gênesis(“No princípio Deus Criou o céu e a terra”) ou testemunhando in loco os acontecimentos, teria enorme embaraço em explicar os fatos (“Haja luz, e houve luz, com Deus a chamando de Dia, e as trevas de Noite”). Não menos complexo é explicar o fenômeno da mais espantosa máquina de inteligência artificial (IA) até aqui apresentada ao mundo: ChatGPT (e olha que estamos só no primeiro dia). Guardadas as devidas proporções, seu impacto na sociedade deste século pode ter alguma analogia com a passagem sagrada do Genesis: “nada do que virá depois se compara ao que veio antes”.

(Antes de prosseguirmos, vale ressaltar que a cada 30 segundos o ChatGPT é melhorado, amplificado e redimensionado. Milhões de usuários, dos mais toscos aos mais bem preparados, estão realimentando sua massa de dados e aperfeiçoando sua eficiência algorítmica com incrível velocidade. Sua força de ‘retroalimentação’ não tem prescedentes na IA do século XXI. Assim, tudo o que este paperpretende explicar e analisar sobre a ferramenta pode estar obsoleto em duas ou três semanas (talvez dias), sendo uma “missão impossível”estabelecer os próximos avanços que envolvem ‘AI Generative’. Portanto, “este texto se ‘autodestruirá’ em 5 segundos…”). 

Em 2 de fevereiro de 2023, a Reuters informouque a aplicação ChatGPT atingiu cerca de 100 milhões de usuários ativos em janeiro, apenas dois meses após o seu lançamento, tornando-se o “software de crescimento mais rápido na história” (o tal do TikTok levou 9 meses para atingir esse montante). ChatGPT é um ‘transformador’, um software de inteligência artificial (AI) cujo significado de seu acrônimo (GPT) é “Generative Pre-training Transformer”. Não vem de outra galáxia, não é um duende superdotado e nem pode responder a tudo o que perguntam. Mas, vai causar um grande abalo na vida inteligente de nossos tempos. É provável que nada seja tão disruptivo nos próximos anos do que as “máquinas generativas de IA”, a ‘família’ que pariu a plataforma conversacional ChatGPT.Corporações, academia, Estados, mercados, comunidade tecnológica e cada indivíduo conectado ao mundo receberá “perturbações” socioeconômicas e comportamentais dessa tecnologia. Menos por sua versão atual e mais por suas próximas versões, a tecnologia GPTtalvez seja a mais marcante mudança no bioma digital desde a criptografia. “O software está comendo o mundo!”, diriam os poetas do apocalipse.

ChatGPT é um modelo de linguagem massiva de conversação (LLM), embricado em linguagem natural e desenvolvido pela empresa OpenAI, sendo baseado em arquitetura GPT-3 e estacionado no eixo das ferramentas de deep learning. Utiliza a massa de dados que circunda a Internet (até 2021) e funciona no modo conversacional com os usuários, inclusive em conjunto com outras aplicações (com licenciamento da OpenAI). Grosso modo, trata-se um chatbot algoritmizado capaz de gerar respostas às questões dos usuários. Por utilizar Processamento de Linguagem Natural (NLP),pode ser usado para uma incrível variedade de aplicações. Foi projetado para ser personalizávele pode ser ‘treinado’ por meio de bases de dados específicas, que melhoram o seu desempenho em tarefas singulares. Você pergunta, dialoga, instiga, ou mesmo oferece trilhas sobre o que quer saber e o ChatGPT lhe devolve um manancial de conteúdo, em geral bem articulado. Todas as respostas ou documentações apresentadas por ele são verdadeiras? Não, há vários exemplos de erros e relatórios citados que não existem. Mas, tudo razoavelmente fácil de checar (inclusive com ajuda do Google). Embora ainda seja uma plataforma minimamente errática, seu uso nos permite prever um ‘godzilla’ à frente, ganhando em assertividade e precisão a cada nova versão.

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A plataforma pode (1) gerar, construir e concluir textos em vários formatos, como artigos, histórias, narrativas, livros, pesquisas, etc.; (2) pode ser usada para criar assistentes virtuaisque entendam e respondam às entradas dos usuários. O alcance depende do questionamento e de inúmeros fatores que instiguem as respostas; (3) traduz idiomas, bem como resume, corrigi, expande e sintetiza textos em vários idiomas; (4) classifica, categoriza e qualifica publicações, pesquisas científicas, livros ou qualquer texto, podendo responder as demandas no padrão que o usuário desejar (por exemplo: como ficaria o texto que você está lendo se fosse escrito no Século XVI? Ou como ele ficaria em sânscrito?); (5) possui uma enorme capacidade de condensar e compendiar documentos, leis, regulações, narrativas, sermões, longos discursos, etc., extraindo as principais informações segundo a classificação e o desejo do usuário (é capaz de resumir o contexto de um livro de 400 páginas em poucos minutos).

Todavia, é na Saúde que as promessas ‘generativas em IA’ crescem. Existem já catalogadas perto de 200 aplicações da plataforma ChatGPT no segmento sanitário. Algumas delas vão revolucionar as cadeias de saúde ainda este ano. Pode ser utilizada na criação de ‘chatbots’ que respondam aos pacientes e seus cuidadores, verificando sintomas, provendo triagem, fazendo agendamento e fornecendo outras informações sanitárias básicas. O velho contact-center de atendimento robótico (uras-chatbots), com limitadas possibilidades de suporte aos provedores de serviços de saúde, tem seus dias contados. Como o ChatGPT opera em modo conversacional, ele pode turbinar os call-centers, respondendo vários níveis de perguntas do paciente, sempre aumentando sua assertividade quando a base de dados de consulta seja mais específica. Se o médico-consultante, por exemplo, for um oncologista, certamente terá mais precisão nas respostas se orientar o ChatGPT a pesquisar em uma base de dados oncológica (quando fizer a pergunta, ele pode indicar qual banco de dados deve ser acessado). A Nice, por exemplo, gigante mundial de software de autoatendimento, já anunciou a integração do CXone Expert com o ChatGPT.

Da mesma forma, a ferramenta pode também resumir relatórios médicos, laudos, pesquisas e ensaios clínicos, tornando-os mais acessíveis aos profissionais de saúde e aos pacientes. O Epic-Chatbot, por exemplo, já usa o ChatGPT para extrair dados de sua aplicação Epic-EHR, gerando relatórios médicos para cada perfil médico, como extratos demográficos, linhas diagnósticas, matrizes terapêuticas, avaliações de progresso do paciente, etc. Nos últimos dias de janeiro, a OpenAI apresentou nos EUA o ChatGPT Plus, um serviço de assinatura mensal de US$ 20 que pode fornecer respostas mais rápidas, acesso preferencial durante os horários de pico e admissão prioritária a novos recursos. Talvez nem seja uma estratégia de monetização, mas de contenção. Quando milhões de usuários podem chegar a ser bilhões em menos de um ano, a OpenAI passa a ter um desafio: tentar controlar esse fluxo, que é bom do ponto de vista de testagem e ampliação da base de conhecimento, mas é perigoso quando milhões passam a exigir da empresa uma velocidade de atualização que ela não pode acompanhar.

O ChatGPT também pode ser ajustado a tarefas ou domínios factuais. Mas cuidado! A ideia de que ele pode substituir a autoria de um documento, como, por exemplo, uma prova escolar, ou uma Tese de Doutorado, ou uma pesquisa científica é simplista, ingênua e datada. Já existem ferramentas capazes de identificar se uma ‘escrita’ passou pelo ‘crivo’, ou foi gerada pelo ChatGPT, ou por outra aplicação generativa de IA. A própria OpenAI estimula essas acareações (possuindo inclusive sua própria ferramenta de aferição), não pretendendo que o produto seja um “logro”, mascarando os incautos que pretendem utilizá-la para plágios, falsas interpretações, etc. Se essas ferramentas de acareação ainda são tímidas, logo ganharão corpo e capacidade de esquadrinhamento. Como explica o paper do MIT Technology Review (“A watermark for chatbots can expose text written by an AI”): “Padrões ocultos, propositadamente enterrados em textos gerados por IA, podem ajudar a identificá-los, permitindo-nos dizer se as palavras que estamos lendo são escritas por um humano ou não. Essas “marcas d’água” são invisíveis ao olho humano, mas permitem que os computadores detectem que o texto provavelmente vem de um sistema de IA. Se incorporados em modelos de linguagem, podem ajudar a evitar alguns dos problemas que esses modelos já causam (alunos trapaceando e utilizando aplicações generativas para escrever redações em nome deles)”. John Kirchenbauer, pesquisador da Universidade de Maryland, que desenvolve ‘aplicações de marca d’agua’ para identificar o “dna” de um texto, ressalta o estágio do ChatGPT: “No momento, é o Velho Oeste”. Como dito acima, estamos “só no primeiro dia” e o que vem pela frente é uma artilharia tecnológica pesada, que, da mesma forma, usa IA para obstruir a má fé (embora ela sempre vá existir em maior ou menor escala).

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